Kingdom Hearts por meio ano, pt.2
Esse texto é uma continuação do outro de algumas semanas atrás, que você pode ler aqui
Da ultima vez falei dos jogos que faziam parte da primeira coletânea: Kingdom Hearts, Re:Chain of Memories e 358/2 Days. Então, obviamente, dessa vez falarei dos outros que estão em Kingdom Hearts 2.5 e mais alguns pensamentos variados.
Kingdom Hearts 2 é tão incrível quanto eu lembrava, por isso foi o que menos me surpreendeu
Se fosse recomendar a melhor versão de Kingdom Hearts 2, seria a que é em 1080p e 60fps, porque ela torna um jogo incrível ainda mais incrível visualmente (além de ser a versão Final Mix, que é melhor), mas minha surpresa ao rejogar o jogo se resumiu a basicamente as melhorias técnicas. Não havia uma memória do jogo ser ruim como no caso do primeiro Kingdom Hearts, ou uma experiência nova como no caso do Re:CoM e 358/2 Days, foi puramente eu rejogando Kingdom Hearts 2 como lembrava, e isso me deu espaço pra ver defeitos que não via antes, coisas que são mais legais nos jogos subsequentes, mas também de como ele ainda é o pináculo da série. Por exemplo: os mundos ainda não integram tão bem a história da série com os mundos da Disney, e o fato de você visitar o mesmo mundo duas vezes deixa isso claro (uma vez pra história do filme e a outra pra brigar com a Organization). Mas é o que possui o melhor sistema de batalha e os chefes mais legais da série: nenhum ainda é tão emocionante quanto o Lingering Will no Critical.
Birth By Sleep é onde a série termina sua transição de ser apenas um crossover com Disney
Kingdom Hearts historicamente sempre foi uma série extremamente ambiciosa, mas tinha dificuldade de sair da visão popular de ser “Final Fantasy com Disney”. Qual foi a solução então? Criar três protagonistas e um mundo coerente antes de Sora entrar na jogada. A riqueza de conteúdo que Birth By Sleep traz pra série é incrível, não só apresentando conceitos essenciais (“Como se ganha uma Keyblade”, “Qual o verdadeiro objetivo do vilão”, “Quem são os outros heróis do mundo”), como também expandindo demais todas as dúvidas e pontos abertos dos outros jogos, como quem era Xehanort, como era Mickey enquanto ainda aprendia a usar a Keyblade, de onde Riku herdou seus ideais. É o primeiro Kingdom Hearts original do time de Osaka (o primeiro mesmo é o Re:COM) e apresenta o famoso “Deck de Commands”, onde o menu dos outros jogos é descartado para um sistema no qual todas as ações estão em uma barra só e depois de gastas são recuperadas com o tempo. Esse sistema foi desenvolvido para melhor acomodar o jogo no PSP, que não tinha tantos botões disponíveis quanto num PS2. Também deve ter sido pensado depois de olhar bem pro 358/2 Days e ver como ficou ruim o menu tradicional no DS. Esse sistema continuou por todos os próximos jogos da série (que foram todos portáteis) e não foi por pouco que todo mundo suspirou aliviado quando o 0.2 revertia para como era no Kingdom Hearts 2, mas com elementos novos como os styles e shotlock (uma forma que muda seu estilo de jogo e um ataque onde você mira em todos os inimigos e solta um ataque, respectivamente). De qualquer forma, o legado de Birth By Sleep é importantíssimo, o que na verdade é uma grande característica da série: seus jogos não-numerados, teoricamente spin-offs, na verdade tem tanta importância quanto os outros, inclusive aqueles que parecem ser só remakes diferenciados de Kingdom Hearts 1.
Os temas de Kingdom Hearts são curiosamente semelhantes aos de Star Wars
Sim, tudo bem, esse papo de luz e escuridão é a coisa mais velha da história, mas a questão é que ambas as séries tratam eles não só de forma figurada como bastante literal também. Não é “luz é bondade, escuridão é maldade”, luz e escuridão são coisas concretas e reais, e enquanto Star Wars não abre muito espaço para os do lado da escuridão serem bons, ele também não passa a ideia de que tudo que tem no lado da luz é bom ou correto. Talvez tenha sido porque essa época que joguei a série coincidiu com eu finalmente assistir todos os Star Wars de cabo a rabo. Principalmente quando cheguei no Birth By Sleep, não consegui deixar de achar o arco do Terra extremamente semelhante ao do Anakin (embora um pouco mais otimista). Ambos discípulos da luz que são conduzidos (sem saberem) por um Mestre de alto status por promessas de respeito e que os convence de que a escuridão não deve ser temida e que com ela vem poderes incríveis. A diferença é que Anakin se joga de frente pro abismo após o pior erro possível, enquanto Terra se arrepende e promete vingança a quem lhe traiu. Pior ainda é que o mestre da luz, Master Eraqus, é dublado pelo próprio Mark Hamill (Luke Skywalker). Em contrapartida, o mestre da escuridão, Xehanort era dublado por Leonard Nimoy (Spock), algo que admitidamente criará um vão grande na próxima vez que o personagem aparecer, pois não havia voz mais perfeita. Aquele papo de que Final Fantasy foi extremamente influenciado por Star Wars acabou se tornando realidade aqui também.
Eu joguei o Re:coded por teimosia, mas ver o filme já bastava
Sim, nosso Guilherme Alves, famoso Neozao, já havia me alertado inúmeras vezes que, diferente do 358/2 Days, o Re:coded era mais legal no filme do que no jogo. Mas eu queria jogar, porque seria o único Kingdom Hearts que nunca teria terminado. Não me arrependo por esse motivo, realmente fico feliz de ter jogado e terminado todos, mas como passei raiva, puta que pariu. Re:coded é curioso demais: ele era na verdade um jogo episódico de celular que só saiu no Japão. A princípio parecia só ser um remake de Kingdom Hearts 1 adaptado para celulares, mas no final de tudo acabou sendo relevante pra história, mesmo que em menor escala que os outros jogos. Por isso, Nomura pediu para que o jogo fosse refeito para DS e lançado internacionalmente em 2011. Ele usa o sistema de commands do Birth By Sleep, além de fazer umas maluquices, como algumas fases serem sidescrollers 2D, ou RPGs de turno. Isso tudo é bem legal e divertido, mas o jogo além de ser no DS e já ser meio complicado de controlar, possui os inimigos mais irritantes da história, que são os heartless bugados, que basicamente são MUITO RÁPIDOS e MUITO FORTES, isso dentro de estágios que você perde pontos cada vez que morre e esses pontos servem para comprar melhorias pra você (o jogo possui um sistema de grid bizarro onde você coloca chips pra ganhar level e status) e isso resulta em você tendo que reiniciar TUDO varias e várias vezes. É estressante num geral e reviver os exatos mundos de Kingdom Hearts 1 pela terceira vez não é exatamente emocionante, exceto pela parte final do jogo em Castle Oblivion, que provavelmente é sua versão mais interessante até então. De qualquer forma, diferente de 358/2 Days, muito pouco presente em Re:coded não vai parar em seu filme na coletânea, tornando suas cenas mais bonitas ainda, e tudo que não vira cena animada é narrado pelo Mickey. O filme é a versão essencial e pega tudo o que precisa ser extraído dele para entender o que falam nos próximos jogos.
Para a última semana dessa retrospectiva vou falar do 2.8 e o Union X de celular.